quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Resumo do Figo.

Segundo me apareceu um Francisco, em des-língua:

Um figo, ao se mover, cada vez mais se encarna.
O moto permite, assim, ao figo, que se materialize quanto mais é lavrado.
O moto engoliu a flor querendo ser figo.

Nem mimosa nem mimese, re-sumada, posta em movimento, ressuscita, a-sumo.
Recorpórea e des-frutada, a passos recursivos, des-comida, re-saboreada.

Assim a metapalavra figo, conforme des-disse Francisco.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

e as folhas que são verdes tornam-se em cinza

E assim é que equanimidade em que fingi acreditar foi quebrada. Facilmente, como se previa, cúmulos, ruídos. Por longos cordões de escuridão. Pelas áreas que cobrem. Longas, compridas. Extensões de terreno cercado, as entradas se movem e querem ser saídas e entradas e saídas e não se decidem.
Quem sabe o apelo do cinza seja também assim vasto. Espero que seja signo. De imposição. De firmar empunhadura. Talvez passagem encruzilhada.
Voltar para casa no pisar do chão, frio de armadura.
Mas não falha, nunca, não há meio, aquele núcleo dos movimentos circulares de modo que se torna sempre a fonte de iluminação.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

ela, quarto crescente

p1: o que se passa com a mulher que já não cabe em si?

– intercala silêncios e desfiles de palavras.

pois que, além disso, acredita em comedir: deitar, palmo a palmo, consigo e o não-seu, aquilo que diz. quando desfila palavras, como referido acima, no entanto, encontra repreensão pela falta de mesura, e percebe que o movimento é de antiprática da estrutura do mundo, recusar o afeto das palavras, um descuido.

assim, interpolando desmedidas, frequentemente se esquece de que o fato de já não caber em si é extremo bem. não é ele, o fato, que determina as suas culpabilidades idiossincráticas, mas sim o jogo de vícios em que se encontra.

p2: o que deve responder a mulher?

– que não é importante saber as regras senão como criá-las, e assim, com sua propriedade propínqua, proceder a tornar o tal jogo uma constante oscilação entre ápices: maleabilidade e dureza. daí, saber usar substratos, essências, tanto quanto o choque de superfícies.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

casinha

"Nothing else in nature comes near this unspeakable stress of pitch, distinctiveness, and selving, this selfbeing of my own."

Gerard Manley Hopkins

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

yes I said yes I will yes

página 1069 devidamente consumada.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

joyce metafórico as opposed to metonímico

"what special affinities appeared to him to exist between the moon and woman?

her antiquity in preceding and surviving successive tellurian generations: her nocturnal predominance: her satellitic dependence: her luminary reflection: her constancy under all her phases, rising, and setting by her appointed times, waxing and waning: the forced invariability of her aspect: her indeterminate response to inaffirmative interrogation: her potency over effluent and refluent waters: her power to enamour, to mortify, to invest with beauty, to render insane, to incite to and aid delinquency: the tranquil inscrutability of her visage: the terribility of her isolated dominant implacable resplendent propinquity: her omens of tempest and of calm: the stimulation of her light, her motion and her presence: the admonition of her craters, her arid seas, her silence: her splendour, when visible: her attraction, when invisible."

domingo, 14 de outubro de 2007

ab anabasis

tire a franja dos olhos: estou perdida. numa visita inconseqüente ao meu próprio abandonado linguado, vi meu apreço pela juventude refletido pixel por pixel, e só vi pois os olhos encontraram a si mesmos. estou perdidamente apaixonada por mim, com todo o terror de que acreditei estar livre. talvez seja melhor, porta aberta, dizer logo "sou". fabrico ponto por ponto. e, assim, no palco mais iluminado, agora com as sangüíneas a me emoldurar, caí de joelhos. este momento, prostrado, catabático, diante de coisas que julgava tão triviais que me traziam sismos. assintomaticamente. que mãos serão essas alcançáveis? a procurar, calos tocarão calos? sulcos aumentarão sulcos? o que tocar, agora?

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

flusseriana

algumas expressões têm vícios. se digo "antigamente, as coisas funcionavam de forma tal" ou "hoje, ocorre x e y ao invés de z, como já foi praxe", qual é o efeito entrelinhado? nostalgia, possivelmente.

mas, veja, às vezes é preciso usar esse tipo de construção! mesmo sem a nostalgia. pode-se dizer que as coisas que ocorreram anteriormente agora já não são as mesmas e, portanto, fala-se de dois fenômenos diferentes em exemplos como o acima (no primeiro, não há a referência ao atual, já sei). não somos assim. por mais que a lida dos dias atuais seja permeada por números, cálculos e planos (não sou eu quem digo, é vilém flusser, e aqui não importa concordar, para efeito de postagem).

temos o comportamento esquizofrênico de contar o tempo, fatiá-lo nos relógios e compromissos, porém quando o mencionamos discursivamente, é sempre um rio só que submete os flutuantes e submersos. para isso ainda não se inventou a roda d'água.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

buoyancy

naquelas revisões de perfil do orkut motivadas por circunstâncias que uma dama não comenta, resolvi colocar alguma coisa bem-humorada porém com uma dica da realidade no campo "ideal match". pois bem. que fiz?
– fui à wikipedia.

já havia uma vez navegado pelos verbetes relacionados a amor, há uma série deles. uns bons minutos ou até horas se pode passar só de tópico em tópico; alguns deles eram inimagináveis para mim: limerence, office romance, romantic friendship, além dos já investigados platonic love, spiritual marriage e courtly love.

onde encontrei o que procurava para preencher a lacuna orkútica?
bem, como sempre, na auto-referência, ou melhor, num movimento mesmo especular que se volta não à minha imagem mas a este palavrar específico assomado plurabelístico e àquilo que ele conta. sim, neste post.

domingo, 23 de setembro de 2007

o retorno de saturno

urge
aspira, entressolto,
forja soluços.

domingo, 16 de setembro de 2007

medo

big brother is here, looking at you, kid.

depois torcem o nariz à sugestão de fuga para o mato. tsc.

não decida agora. espere aí uns anos, mas fique atento.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

as sortes do dia

passolavrar e reconhecer pés (longos, curtos)
sibilante ergo, suma constante (velar)

direcionadas coníferas em globo e apêndice (destro)
horizonte imaginativo onde mora o que se furta (de soslaio)

vale-se do sal, vinte e três (e onze)
de lupino salto, palatável rastro (prévia).

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

eu tenho saco

clique-me!

não vou comentar demais, o link acima é (quase) suficiente para o que quero dizer.

só mais uma coisa: por favor, por favor mesmo, vamos parar de aceitar sacos plásticos nas lojas e supermercados? tenho um monte de sacos aqui em casa! preciso comprar sacos pequenos de lixo? não. preciso ganhar mais sacos no supermercado? não. posso levar os excedentes pro posto de coleta de plásticos do pão de açúcar? sim. posso comprar uma ou mais sacolas de pano para levar às compras? sim!

vamos lá, é muuuuuuito simples. mais simples que isso somente apagar as luzes, fechar a geladeira, tirar os eletrodomésticos do stand by, ajudar o comércio local, ter coragem de soar chato e por aí vai.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

pli selon pli

quando escrevia no linguado sobre o natural, quando escrevi aqui sobre pôr os pés no chão, não quis dizer que nunca nós humanos devíamos ter-nos afastado do selvagem.

primeiro: minha crença e, para todos os efeitos, religião (por que não?) reside na proposição de que nunca nos afastamos da natureza: estamos nela e somos ela também.

segundo: já dizia spencer brown que "o nosso conhecimento do Universo supõe ao mesmo tempo familiaridade e estranheza; ele supõe o nosso exílio".

até onde deve ir esse exílio, qual é o limite para que não haja desligamento total? bem, acredito em uma constante espiritual que determina iterações num espaço de fase que nada mais é do que a evolução da nossa consciência como um sistema. embaralhou? explico: tenho fé (sim, ) que um possível limite de afastamento está próximo, que será recuperado sentimento de pertencer ao meio; esse movimento de dobra em cima de outra dobra é o que prenunciam os novos paradigmas.

minha fé não aponta para uma força divina, mas um atrator estranho que engloba todo o aparente caos-acaso das relações entre os componentes desse sistema universo. quanto mais caminhamos para o desequilíbrio, mais emergem padrões que contêm o desenho da totalidade do mundo, mais abrigamos sinais de que nosso ambiente não é em volta, mas em tudo.

voltando às palavras e ao seu exercício: dobras que contêm as dobras do mundo, a meu ver. aplico aí minha parte da constante espiritual e tenho um senhor prazer nessa atração estranha.

domingo, 12 de agosto de 2007

autorigem

já tive muito o hábito de remeter minhas sensações a algo que não está presente. assim: via/ouvia alguma coisa que me fazia sentir algo que eu mesma relacionava a uma outra coisa, que seria a original. aquilo que despertou a sensação seria apenas um intermediário. a coisa original era sempre algo fora do meu alcance, e sentia que, se conseguisse alcançá-la, teria a mesma sensação, porém com mais legitimidade.

acho que existe uma tendência mesmo à representação, a colocar intermediários em percepções, sentimentos, sensações, etc.

pois já tem um tempo que quero fazer a experiência de legitimar o que sinto como sendo o "original". e sem especulações intelectuais sobre tal atitude ser a certa ou a melhor ou algo que o valha.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

grounding

o chão é composto por várias partes, nem todas embaixo dos pés. não possui a chanura aparente de pisos e tábuas corridas.
o chão que piso, aquele em que sinto meu pé pisar, está à beira do desequilíbrio. organiza-se, no entanto, dia após outro, sistemática porém não linearmente com seus canais de circulação, os muitos objetos e os verdes e vinhos, a mirada larga lá para fora. complexifica-se. as dobras da amoreira, da bananeira, o composto, o gramado, tudo isso é chão também. piso com pés, mãos, olhos, nariz. a estante quase invisível de tão presente. estas palavras sem o cuidado que merecem. querem comunicar o chão, mas não representar. ele se percorre todos os dias no fundo dos olhos, dos pés, das mãos e do nariz.
espero que ele se abra, que sofra uma cisma e que vire uma fenda e mil pedacinhos entre a solidez de paredes ainda fortes. e que a fenda, de maneira emergente, abrigue muitas pessoas e muitas coisas e os fragmentos sejam altamente digeríveis.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

palavras de silêncio

ontem, um dos interatores deste e do antigo blog me deixou um scrap com a seguinte mensagem:

Aliás, eu gostaria de dizer que apesar de não me identificar com esse aspecto, admiro profundamente tua necessidade (e disciplina) de exercício permanente e sistemático da língua, mesmo que sem nenhum propósito definido.


com a ajuda do glorioso wittgenstein, a quem fui recentemente apresentada, comecei a suspeitar qual seja o tal propósito. não o acho indefinido. o comentário de meu amigo foi completamente pertinente, mas a verdade é que, embora já tenha explicado tal propósito algumas vezes, lendo sobre o witt ele ficou bem mais claro. já havia resolução, porém pouca definição. agora, explico assim: o modo de funcionamento do mundo está impresso na linguagem, mas não é, acredito, expresso por ela. a prática da escritura é então, sublinhe-se (isto é importante!), pra mim, praticar vida, intra-agir com o mundo, malear o mundo.

terça-feira, 31 de julho de 2007

cais

aportar quando
te tornares o
embaraço, de perto
de dentro, importar.

todas as coisas
esquecidas, ontoterradas
emergência que levita
jogo de contas
atividade do ar.

chamado – lanço
escuto – lanças

escuto
o trem azul.

aceitar, tomar, escrever
nas tuas, nas minhas
mãos.

agosto is born

trocadilho a gosto – sem a esbórnia – para marcar o mês anunciado por um wishful thinking temático: leveza. sim, ainda uma vez.
hoje, confesso, poucas músicas da minha playlist usual do iTunes eram a escolha certeira.
quis algo leve e delicado, que não abafasse o som retumbante da mudança de estações.
talvez um pouco como JC e santa catarina e seus estigmas, as estações são mais do que quatro, talvez sejam como as de G.H., ligeiramente. mas, honestamente, acho que estão mais para aquelas onde se pega o próximo trem.
e esta estação abriga a memória de todas as passadas assim como a potência das que virão. nela, há mudança das condições atmosféricas; aliás, não é que não ocorram também em outros lugares, mas aqui é onde ficam os termômetros, barômetros, relógios e até balanças onde se pesa a bagagem.
agora, um instante: é assim que funciona, então, um momento marcante? um ponto de mutação? isso é uma analogia?
não é mais – foi – e digo: o melhor de tudo está onde não posso analogizar, talvez se tentasse muito: no vento que o trem desloca. Mas, nem aí, nem assim pode estar em algum lugar ou alguma palavra a constante sinestésica aplicada a este nascimento de agosto.
para onde se vai então? a questão não é para onde, mas com o que e com quem. e outra: que se deve ir. já sabia? então não larga.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

auspinícios

venho oficialmente abrir este blog com a notícia de augúrios e sinais piscapiscantes.
ontem, 25 de julho, data do aniversário de 3 anos de meu antigo blog, cheguei da chapada dos veadeiros cansada, empoeirada, saudosa (de lá) e recepcionada por um pacote da amazon. recebi, finalmente, a cópia que pedi do livro meeting the universe halfway, de karen barad.

os principais leitores do antigo blog votaram pela manutenção da ordem de comentar sobre quaisquer assuntos e inserir textos literários de quando em vez. pois acato a opinião do público e passo a atribuir marcadores para agenciar as postagens. creio que, de acordo com minhas inclinações transdisciplinares, o ideal seria simplesmente não classificar nada – mas gosto de organização – e por isso tentarei criar marcadores não-compartimentalizantes; por isso, usei o verbo agenciar.

o que me leva de volta a karen barad. delícia de livro que já anuncia nos começos: usam-se por aí analogias para validar conceitos com pouco fundamento. além de pensar, com auxílio do texto, em exemplos como os filmes o segredo e quem somos nós ou, ainda, em instituições como a pró-vida e a cientologia, que usam esparsamente conceitos (falhadamente) científicos para justificar comportamentos de auto-ajuda, também pude ver como utilizei o mesmo mecanismo no antigo blog. muitas vezes, analogizei para fundamentar um comentário. olhando com os olhos de dentro, creio que o fiz em nome da proposição de gregory bateson que diz que a metáfora é a linguagem da natureza... extrapolação? acho que sim. metáfora e analogia não são a mesma coisa. parece que usei as duas, piscapiscando. desejo para este blog que um exercício seja feito de agenciamento de idéias por meio de um mecanismo ainda desconhecido (dele, só sei que não é analógico). por que falar sobre isso na primeira postagem? esse mecanismo e suas evoluções serão pra mim muito importantes, já que, em todas as frentes que me interessam, quero abusar da transdisciplinaridade. isso implica entender melhor a proposta de bateson, o alarme de karen e uma organização aparentemente pessoal, porém não individual, que me pôs neste caminho.

não é difícil perder de vista a vontade-motor das idéias que já me surgiram e surgirão, a vontade muito benfazeja de integração, de ecologia não só da mente, mas profundamente total. a autocrítica, assim como as metas muito elevadas, frequentemente me põem a questionar a validade de tanta pensação, de tanto acúmulo de informação, dessas inclinações polimáticas perigosamente vizinhas à vaidade que me acometem. o que estou fazendo ao escrever neste blog, enquanto poderia estar ensinando princípios básicos de bem-estar a crianças pobres? quero acreditar que me preparando pra algo que, neste caminho, vai surgir, e será talvez um esclarecimento maior desses porquês, será confluente com a (margem da) corrente pensatória em que nasci e vivo.

de qualquer maneira, é só um maldito blog.

(inserir linha de comando a la abracadabra)