quarta-feira, 19 de agosto de 2009

astronomy domine... anima mea

retorno de saturno. aparentemente, estou nele.
não sei bem o que acho de astrologia, mas "retorno de saturno" soa. combina com "retumbante". soturno. estorno. saturo. estouro. noturno. ressalto. costuro.
então se for verdade que umas constelações me estão pirando os nervos, podem ser de estrelas ou palavras em forma de som.
estive hoje comentando: o que tem gosto bom não tem nome feio: camomila, erva-doce, sálvia, alecrim... mas o que tem gosto ruim, sim: boldo, carqueja, mastruz, cáscara...
então não se elimina o acaso. acredito muito na sinestesia. mais do que nos astros.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

saudade daquele radical ermo contemplativo da infância

que criança séria que eu era. mas ainda bem. por isso, olhava com força.
e assim até hoje guardo uns vislumbres de como era minha cidade naquela época. minha brasília tão aberta que causaria ansiedade nos mais citadinos.

sempre lamento pelos cantos toda mudança que o plano piloto sofreu. posso enumerar algumas pragas:

* os jardins à la teletubbies que proliferam em canteiros, balões e superquadras;
* as infames lajotas que deixam tudo com cara de banheiro do avesso e, como não bastasse, caem na cabeça das pessoas que ainda se atrevem a andar a pé pelas quadras;
* os prédios muito grandes na zona central, bloquando a vista dos monumentos do eixo que, afinal, chama-se monumental;
* as cercas em todo lugar, prisões disfarçadas: em volta de pilotis (crime! safadeza!) impedindo a livre circulação tão almejada por lucio costa, em volta de parquinhos infantis, de árvores etc;
* a proibição de uso do pilotis para qualquer coisa que não seja caminhar do estacionamento à portaria. crianças deveriam brincar nele, afinal;
* tamanhos inaceitáveis de letreiros, além do mau-gosto;
* falta de manutenção na torre e no parque da cidade, também em prédios sob responsabilidade do governo (federal ou distrital): os da unb, da escola de música, das escolas classe e parque, espaço cultural da 508 e por aí vai;
* quaisquer reformas nos prédios que tirem o caráter arquitetônico inicial. por que não apenas lixar e encerar o concreto, cuidar das pastilhas...? filisteus!

felizmente, para minha sanidade e conforto, a cidade e minha memória em conjunto conseguem produzir sensações que remetem ao passado saudoso. não são exclusivamente visuais, mas momentos sinestésicos, varrendo a abrangência de sentidos que um dia vivenciaram com incrível consciência as cores, relances, climas, razões, texturas e caminhos de brasília.

os gatilhos variam; tenho a impressão de que frequentemente são nuances de luz sobre prédios e árvores, sobre o lago. ou este céu inevitável, indefectível e maravilhoso. o concreto, algum vestígio de paisagismo setentista, um pouco de athos, marcílio, lelé, lucio. pau-ferro no eixão sul e os comparsas ipês e sibipirunas. algumas espatódias e callistemon, embora exóticas. pequenos trechos de curvas e jardins e até pedaços de asfalto sem novos desvios. praça portugal. praça do conjunto, um pouco. dependendo da hora do dia.

se no futuro esse meu contentamento com a miséria de lembranças que tenho acabar, ou se todo vestígio da minha brasília sumir, vou-me embora daqui, só não sei pra onde.