quarta-feira, 7 de abril de 2010

and the love that i feel cause it's the time of the year

hoje estava voltando da escola de música e levei um susto quando me dei conta do tom de azul do céu sem nuvens contrastando com a terra vermelha ali no descampadão atrás do balaio, entre a 201 e o setor de autarquias norte. um susto que fez meu coração bater mais forte, apaixonado que é por esta cidade ou o que ela poderia ser. é aquela época do ano. minha favorita, melhor do que aniversário, natal e ano novo tudo junto. cheguei em casa, abri a janela e deixei entrar pela primeira vez desde que vim morar na 216 aquele ar fininho e com as bordas cortantes, friazinhas, que é o condutor da minha disposição entre os meses de abril, maio e o começo de junho. passa tão rápido. mas essa é a época mais propícia a revirar os restos, produzir composto, compor. é agora meu tempo de sacodir esse tapete da sala, levar pra limpar. pegar minha guitarra e tocar com um sorriso na cabeça. não perder as manhãs. reservar a tela do computador para os momentos como este e aqueles outros inevitáveis. tudo o que você podia ser: colocar num porta-retrato e olhar ao acordar. acordar. colocar os pés no chão para, quando subir, aproveitar melhor a vista. visitar as palavras dos outros. captar frequências. endireitar a coluna e se sentir sólida, com bondade. sorrir sozinha. todos os dias. secretamente dedicar coisas. até para a coriza indefectível dei boas-vindas, pois não se pode ignorar as coisas favoritas, não se pode esquecer de festejar os afetos, muito menos quando o movimento é de retirar aquele tampão no olho bom, coloquei no lugar errado, a cola secou. se for para arrancar de uma vez, a hora é esta. são muitas as promessas, por que não fazê-las? são muitos os possíveis escritos, as possíveis audições, possíveis passeios, as fotografias latentes, o coração já azeitado, os músculos esperando o tremor, minha mente cheia de sorrisos e minha boca, acabo de perceber, fazendo aquele jeito de patinho que acontece quando durmo ou quando me perco em tarefas maquinárias e passagens secretas. estou embarcando. a passagem é livre.

3 comentários:

Galvao OF disse...

Primeira reação: Digo que vim de Creta fugido dos amigos do meu inimigo que matei. Não te engano mas estranho que me ajudes agora, após tantos trabalhos e sofrimentos. Os últimos trabalhos me instrues para que finalmente volte a Penélope.

Rafael de Sá Cavalcanti disse...

Ah, lembrei de uma citação interessante do Paul Auster sobre solidão, que representa bem meu ponto de vista sobre isso:

Every book is an image of solitude. It is a tangible object that one can pick up, put down, open, and close, and its words represent many months, if not many years, of one man's solitude, so that with each word one reads in a book one might say to himself that he is confronting a particle of that solitude. A man sits alone in a room and writes. Whether the book speaks of loneliness or companionship, it is necessarily a product of solitude.

Ok, parei de te encher.

Rafael de Sá Cavalcanti disse...

Putz, na distração comentei no post de baixo. Desculpe.