terça-feira, 31 de julho de 2007

cais

aportar quando
te tornares o
embaraço, de perto
de dentro, importar.

todas as coisas
esquecidas, ontoterradas
emergência que levita
jogo de contas
atividade do ar.

chamado – lanço
escuto – lanças

escuto
o trem azul.

aceitar, tomar, escrever
nas tuas, nas minhas
mãos.

agosto is born

trocadilho a gosto – sem a esbórnia – para marcar o mês anunciado por um wishful thinking temático: leveza. sim, ainda uma vez.
hoje, confesso, poucas músicas da minha playlist usual do iTunes eram a escolha certeira.
quis algo leve e delicado, que não abafasse o som retumbante da mudança de estações.
talvez um pouco como JC e santa catarina e seus estigmas, as estações são mais do que quatro, talvez sejam como as de G.H., ligeiramente. mas, honestamente, acho que estão mais para aquelas onde se pega o próximo trem.
e esta estação abriga a memória de todas as passadas assim como a potência das que virão. nela, há mudança das condições atmosféricas; aliás, não é que não ocorram também em outros lugares, mas aqui é onde ficam os termômetros, barômetros, relógios e até balanças onde se pesa a bagagem.
agora, um instante: é assim que funciona, então, um momento marcante? um ponto de mutação? isso é uma analogia?
não é mais – foi – e digo: o melhor de tudo está onde não posso analogizar, talvez se tentasse muito: no vento que o trem desloca. Mas, nem aí, nem assim pode estar em algum lugar ou alguma palavra a constante sinestésica aplicada a este nascimento de agosto.
para onde se vai então? a questão não é para onde, mas com o que e com quem. e outra: que se deve ir. já sabia? então não larga.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

auspinícios

venho oficialmente abrir este blog com a notícia de augúrios e sinais piscapiscantes.
ontem, 25 de julho, data do aniversário de 3 anos de meu antigo blog, cheguei da chapada dos veadeiros cansada, empoeirada, saudosa (de lá) e recepcionada por um pacote da amazon. recebi, finalmente, a cópia que pedi do livro meeting the universe halfway, de karen barad.

os principais leitores do antigo blog votaram pela manutenção da ordem de comentar sobre quaisquer assuntos e inserir textos literários de quando em vez. pois acato a opinião do público e passo a atribuir marcadores para agenciar as postagens. creio que, de acordo com minhas inclinações transdisciplinares, o ideal seria simplesmente não classificar nada – mas gosto de organização – e por isso tentarei criar marcadores não-compartimentalizantes; por isso, usei o verbo agenciar.

o que me leva de volta a karen barad. delícia de livro que já anuncia nos começos: usam-se por aí analogias para validar conceitos com pouco fundamento. além de pensar, com auxílio do texto, em exemplos como os filmes o segredo e quem somos nós ou, ainda, em instituições como a pró-vida e a cientologia, que usam esparsamente conceitos (falhadamente) científicos para justificar comportamentos de auto-ajuda, também pude ver como utilizei o mesmo mecanismo no antigo blog. muitas vezes, analogizei para fundamentar um comentário. olhando com os olhos de dentro, creio que o fiz em nome da proposição de gregory bateson que diz que a metáfora é a linguagem da natureza... extrapolação? acho que sim. metáfora e analogia não são a mesma coisa. parece que usei as duas, piscapiscando. desejo para este blog que um exercício seja feito de agenciamento de idéias por meio de um mecanismo ainda desconhecido (dele, só sei que não é analógico). por que falar sobre isso na primeira postagem? esse mecanismo e suas evoluções serão pra mim muito importantes, já que, em todas as frentes que me interessam, quero abusar da transdisciplinaridade. isso implica entender melhor a proposta de bateson, o alarme de karen e uma organização aparentemente pessoal, porém não individual, que me pôs neste caminho.

não é difícil perder de vista a vontade-motor das idéias que já me surgiram e surgirão, a vontade muito benfazeja de integração, de ecologia não só da mente, mas profundamente total. a autocrítica, assim como as metas muito elevadas, frequentemente me põem a questionar a validade de tanta pensação, de tanto acúmulo de informação, dessas inclinações polimáticas perigosamente vizinhas à vaidade que me acometem. o que estou fazendo ao escrever neste blog, enquanto poderia estar ensinando princípios básicos de bem-estar a crianças pobres? quero acreditar que me preparando pra algo que, neste caminho, vai surgir, e será talvez um esclarecimento maior desses porquês, será confluente com a (margem da) corrente pensatória em que nasci e vivo.

de qualquer maneira, é só um maldito blog.

(inserir linha de comando a la abracadabra)