quarta-feira, 1 de agosto de 2007

palavras de silêncio

ontem, um dos interatores deste e do antigo blog me deixou um scrap com a seguinte mensagem:

Aliás, eu gostaria de dizer que apesar de não me identificar com esse aspecto, admiro profundamente tua necessidade (e disciplina) de exercício permanente e sistemático da língua, mesmo que sem nenhum propósito definido.


com a ajuda do glorioso wittgenstein, a quem fui recentemente apresentada, comecei a suspeitar qual seja o tal propósito. não o acho indefinido. o comentário de meu amigo foi completamente pertinente, mas a verdade é que, embora já tenha explicado tal propósito algumas vezes, lendo sobre o witt ele ficou bem mais claro. já havia resolução, porém pouca definição. agora, explico assim: o modo de funcionamento do mundo está impresso na linguagem, mas não é, acredito, expresso por ela. a prática da escritura é então, sublinhe-se (isto é importante!), pra mim, praticar vida, intra-agir com o mundo, malear o mundo.

17 comentários:

Nitram disse...

hmm, acho que não me expressei tão bem... seria mais preciso dizer "mesmo que não necessariamente com algum propósito definido". afinal, acho que não dá para SEMPRE ter um propósito definido, hehehe... além disso, que o propósito não seja definido não significa que ele não exista, certo? ;)

Nostromo disse...

"O modo de funcionamento do mundo está impresso na linguagem, mas não é, acredito, expresso por ela". Pode desenvolver?:) A idéia é que a linguagem é um reflexo do pensamento e o pensamento um reflexo do mundo? Se for, eu gosto dessa idéia.

Wittgenstein mudará sua vida, se ainda não mudou.

:*os!

Anônimo disse...

martín fierro: concordaria contigo, mas acho que existe, pra mim, ao escrever, sempre ao menos um propósito definido que é este de praticar o mundo. os outros de fato são bruxuleantes... =)

andré: exatamente. você desenvolveu em poucas palavras, assim como gosto. espero ainda escrever mais sobre isso por aqui, quando forem surgindo mais comentários... estou lendo um paper sobre o infinite jest, livro de david foster wallace que li no começo deste ano, e o autor usa wittgenstein como ponto de apoio (por saber que o próprio DFW o tem como influência), então acho que ainda pode dar pano pra manga.

beijos aos dois!

Anônimo disse...

quando disse comentário quis dizer meus próprios blablás sobre essas coisas que ando lendo, em forma de postagens, ou os que vêm animar aqui a caixinha de comentários.

Anônimo disse...

não identifiques pós-modernidade com falta de propósito necessariamente, maíra galvão.
=**

Anônimo disse...

po, foi mal... vou consertar. isso estava me incomodando mesmo.

Nitram disse...

agora eu me pergunto se isso que vc chama de propósito não seria, na verdade, uma condição.
e se o pensamento não seria um reflexo da linguagem, ao invés da linguagem um reflexo do pensamento.
claro que eu não sou o primeiro, nem serei o último, a se perguntar isso...
beijos!

Anônimo disse...

acredito no propósito, na vontade. pode ser uma condição, mas nem todo mundo escolhe praticá-la dessa forma.
a outra dúvida, nem me aventuro a tentar responder.
=)

Nitram disse...

ah! mas a vontade não é necessariamente um propósito... nem necessariamente definido.
só que, para certas coisas, me parece que ela é condição mínima... para muitas coisas, aliás.
atenção: isto não foi fruto de longas reflexões, apenas de um devaneio momentâneo. :P

Anônimo disse...

nossa, você quer mesmo me contrariar hein martín. ô íngua! tem propósito sim, eu pensei e agi de acordo com um propósito e é praticamente só sobre isso que escrevo. e já defini esse propósito há um tempo, então pra mim ele é bem claro. minha vontade é o motor do meu propósito. estou falando de uma coisa pessoal, pensada e que não é um devaneio momentâneo! quando escrevo, tenho o propósito, sim, sim de praticar a linguagem e praticar o mundo. mas isso é uma coisa pessoal, acho que nem todo mundo tem esse mesmo propósito.

pombas.

Nitram disse...

hehehe, calma! não era minha intenção te contrariar. mas reconheço que este não é o meio mais adequado para esse tipo de debate...
anyways, que bom que essas coisas estão tão claras para vc, para mim as únicas coisas claras são as que não podem ser expressas em palavras (ou talvez eu simplesmente não tenha esse talento). aliás, lidar com palavras ultimamente tem sido um propósito um tanto frustrante...
no mais, oras, foi vc quem pegou um devaneio meu dentre tantos e lhe deu toda essa carga crítica!
vê se relaxa :***
ps: mesmo se o teu blog não tivesse propósito definido, eu o continuaria lendo. não é propósito o que eu busco nas palavras...

Anônimo disse...

opa, detectamos o calo: peguei teu comentário e usei pra deixar claro um comportamento meu! não era para criticar o comentário! a carga crítica foi sem querer, era mais pra usar de pano pra manga para o tema da postagem.
me desculpe se pareceu crítico... sorry sorry.
=*

Nitram disse...

hehehe, tudo bem, imagina. não precisava ter tirado meu nome do post tmb, afinal confesso que senti uma ponta de orgulho ao me ver citado em tão ilustre blog... ;)
mas vc sabe, eu tenho essa paranóia constante de ser mal compreendido, especialmente por causa dessa minha dificuldade em ser claro e conciso com as palavras (aparentemente minha paranóia é justificada, pq isso acontece o tempo todo). e vc parece compartilhar da mesma encanação, então acho que é normal a gente se bater de frente de vez em quando...
beijos!

Paula Zimbres disse...

Adorei "Praticar vida". Acho que eu já tinha dito algo nesse sentido, há algum tempo atrás, quando falei que as linguagens (inclusas aí as visuais, sonoras e quetais) não são capazes de representar o mundo "concreto", mas refletem, sim, a nossa experiência afetiva das coisas. Lembra?
E quanto à ponte "pensamento-linguagem-realidade", tendo a concordar com o Martín: não existe pensamento independente das estruturas da linguagem; nenhum pensamento se constrói sem ser condicionado por elas. "Pensamento como reflexo da linguagem", e não o contrário, me parece mais adequado.
Beijinho!

Anônimo disse...

lembro sim, chuchu.
mas eu concordo com isso também.
minha postagem parece dizer outra coisa?
=*

saudade de vc, hein.

Anônimo disse...

o pensamento é, sem dúvida, um reflexo da linguagem, mas a linguagem tem o "modo de funcionamento" do mundo entranhado nela, e o pensamento, estando no mundo, também. assim fechamos a rede, mas não a tornamos equilibrada o suficiente para que não surjam padrões. eles surgem, complexificam-se, geram propriedades emergentes, se quebram e se renovam no começo do ciclo.
talvez.
=D

Nitram disse...

na verdade, tudo isso é um só rizoma..............