sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

a terra azul da cor de seu vestido

ontem, voltando pra casa, vi lá no horizonte provavelmente o que vejo com frequência mas cometo não notar. um 'bosque' reflorestado, daqueles de pinheiros, homogêneos e escuros. quando eu era criança, chamava isso de beleléu. os primos viajávamos com os nicolaus e íamos no caminho nomeando algumas coisas e paisagens. as florestas de pinheiros são os beleléus, mas ainda havia outro tipo, o cafundéu, que era composto por outro tipo de árvore. não sei qual, mas também dessas que repovoam espaços por aí.
fiquei olhando pro beleléu, aquela coisa longe e compacta meio verde-azulada, escutando clube da esquina, pensando nas coisas melhores do mundo. mas dizer isso, pensando bem, é uma metonímia, ou pode ser. parece que é substituir a mente por mundo. enfim, o beleléu é uma dessas coisas melhores da minha cabeça-mundo, daquelas que não sei bem como transplantar pra outras cabeças. e não pude escrever, do beleléu, metaforicamente como costumo fazer aqui, em forma de cifras, talvez porque quisesse ser prosaica como essa lembrança. mas ainda tem mais. na hora, pensei em estar no alto, olhar pro longe, escutar música de altos e longes e ao mesmo tempo de chão e proximidade. que era bem aquele olhar pro beleléu. e quando era criança, "ir pro beleléu" queria dizer morrer, ou sumir. eu tinha muito medo da morte, sonhava até com ela, tinha insônia. mas o beleléu era, quando passava pelo nosso carro na estrada, uma figura sofisticada na mente-mundo-criança, uma morte bastante mais metafísica. tinha fascinação por me perder do espaço comum, transitar pelos submundos mentais que se afastavam proporcionalmente ao deslocamento do carro ou das horas da madrugada, das páginas dos meus livros de criança, todos os meus movimentos experimentais primeiros.
e agora? parece que todas essas impressões ficaram, duvidosas, numa espécie de sudário dessa mente que só meta-morre, que se vê, volta e meia, às voltas e retornos, saídas e bandeiras com gosto de sol azul escuro.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

enovelar, anuviar, entretecer, emaranhar

engraçado que a música rara seja feita de tanta densidade. até as mínimas manifestas em longos intervalos, intercalantes. algumas, areia de regresso, outras, topografia de mobilidade. no ar, coluna que carrega, ainda, curioso, massa de quase-nada, a ânsia pelo inteiro. haru.

mono. sai de gorgorejantes e gotas aguagrandes, em burburicantes analgas até aportar aos trovejares.

(aborrecer?)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

pequena homenagem a vários músicos: alice coltrane, keith jarrett, erik satie, lyle mays, glenn gould

teclas em constante edição, usadas com propósitos que já se sabem débeis desde o início: entrar em mínima consonância ou até compasso tátil com outras longes e várias teclas. aproximar-se além do impalpável. fazer desenhos correrem por entre linhas e outros espaços correspondentes a padrões de interferência. se fazer interferir, isso sim, com as teclas. tentar promover a própria palavra tecla a possibilidade poética. não saber por onde ir para esconder os nomes eles próprios sem cifras.

enfim, desenrolar (ou confundir) as teclas em cordas
em caixas
em sopros
em correnteza
em passos
em estalos

até deixar assentar, até quase dormir.